segunda-feira, 17 de outubro de 2011

SISTEMA DE AVALIAÇÃO



Olá pessoas, acho que já está na hora de estabelecer um sistema arquetípico para avaliação de filmes, jogos e o escambau que estão para ser criticados ou estimados neste site. Eu na verdade divisei um formato a muito tempo, antes até de iniciar o blog, porém não o cheguei a pô-lo em prática até então, e as críticas vêem sendo puramente prosaicas, vindo sem o auxílio de uma classificação categórica referente à qualidade da obra como nota final de minha análise.

Para dizer-lhes a verdade eu não gosto desse tipo de coisa, o ato de dar notas a filmes; a mim soa um tanto errado classificar um filme em termos absolutos usando algo tão arbitrário quanto um número, como se uma produção pudesse ser fatorada em termos matemáticos. Essa prática parece-me tão estúpida quanto tentar dar notas a ideologias políticas.

Tendo isso em vista eu elaborei um sistema que uso para dar uma classificação da qualidade que o filme representou para mim. É claro, meu sistema não é perfeito, e muito provavelmente acaba sendo mais falho e fudido do que esses numerológicos e alfabéticos que existem por aí, mas o que importa mesmo nos fatos claros é que ele é meu e, portanto, funciona perfeitamente. Posto tudo isso de lado, aqui estão as classes diferentes de meu sistema e seu significado:

----- Medíocre
Para começar a explicar o meu conceito de crítica eu escolhi a classificação "medíocre" como a fonte de exposição, já que o termo medíocre como o uso para crítica é o que melhor engloba as características de que valores eu identifico em uma obra artística.

Nenhum dispositivo literário é novo, tudo que é feito pelo homem nos meios artísticos já foi feito antes, apenas em uma situação mais simples ou complexa, com medidas mais ou menos violentas e resultados a níveis variados de visceralidade. Entretanto, tudo que é criado constitui um trabalho completamente original em seu próprio direito. Logo, ao mesmo tempo em que uma coisa já foi feita, considerando que a nova seja bem feita e não meramente copiada da antiga, ela é completamente nova quando feita de novo. Isso decorre do contexto, uma mudança de contexto na forma como um dispositivo é aplicado numa obra criativa permite uma completa reinterpretação de seu valor artístico no meio aplicado. Um contexto diferenciado também pode permitir o uso de diferentes tipos de dispositivos, originalmente diferentes, ou até mesmo antitéticos ao dispositivo central, para criar a obra desejada. ISTO é originalidade. CONTEXTO! Contexto é que da a entender que um trabalho é novo, e não meramente o reuso de uma formula velha de filme B ou duma série de ficção cientifica obscura em sua época de origem. É com isso que eu me importo, o contexto em que os personagens, os visuais, os sons e os dispositivos estão inseridos.

A origem do contexto de uma obra emerge da personalidade do autor e seu arranjo de conhecimento, e é completamente natural e impossível de controlar até, é claro, que o autor, ou o grupo criativo, a identifique e enfatize as suas características. Por contexto, entende-se que é uma coleção dos temas e maneirismos do autor: as mensagens que usa, o formato expositório adotado, a escolha de dispositivos e a estrutura narrativa. Em essência, se trata do estilo do autor, que pode ser apreciado e interpretado de várias maneiras distintas. Porém, dito contexto pode apenas existir em obras cujo intento era o de ilustrar as características mencionadas, direta ou indireta; visto que um homem não pode copiar aquilo que fez outro brilhar, mas apenas aprender como ele brilha e ser influenciado por esse conhecimento. Tentar imitar completamente o brilho de outro não pode dar em nada de bom, como discutirei mais abaixo.

Os dispositivos, então, são uma arma para dar forma ao contexto em que o autor trabalha.

É necessário que o homem identifique a si mesmo, o que se torna possível apreciando outras obras, que dá conhecimento; e produzindo as suas próprias, que dá experiência. O primeiro funciona ao trazer perguntas com a sua desenvoltura, forçando a mente a trabalhar pelo percurso da narrativa tentando prever seus movimentos. O segundo permite aplicar esse conhecimento de forma prática e entender o que funciona ou não e o que o autor gosta de usar ou crê ser contra-produtivo ao resultado final que almeja. O processo de identificação de um conceito nunca termina, mas seu aperfeiçoamento é o que permitirá ao autor usar os dispositivos para dar a mensagem que deseja dar a respeito da obra em que trabalha. Pode ser a idéia de que o mundo onde a obra ocorre é horrível (como em uma distopia), ou que ele é muito bom (como em uma utopia), ou que ele parece bom a um olhar superficial, apenas para se revelar um inferno em uma analise mais cuidadosa. Habilidade na apresentação dessa ideia requisita todas as qualidades discutidas acima para que os dispositivos sejam postos para ilustrar o contexto corretamente.

Um trabalho medíocre é, portanto, a pura réplica de que comentei anteriormente: um trabalho que não possui um contexto e estilo únicos e que, ao invés disso, procura faturar do estilo de outra pessoa. Não se trata puramente de plagio que falo, mas sim de um defeito muito mais proeminente dentro da natureza humana, e que é responsável pelo plágio e pela tentativa de replicar estilo: o de copiar as coisas que brilham. Imagine um filme ou um livro lançado que tenha tido muito sucesso e recebido grande aclamo, e numa gigantesca quantidade lixo obscuro produzido após ele que tentara obter sucesso em suas semelhanças com o trabalho original. Não deve ser muito difícil pensar em algo do tipo. Toda forma de mídia e entretenimento possui um exemplo desses, bem como todo gênero e escola literária que utilize dessa mídia - e, por deus, alguns gêneros só existem DEVIDO a esse problema; vide essa onda pós-Crepúsculo, uma série que sacrificava partes de sua mitologia base em favor da sensualidade superficial e vazia, de histórias de vampiros sedutores e seus romances de adolescente. E este efeito não se reserva apenas a obras em particular, pois pode se replicar através do abuso de vários dispositivos que estão na língua popular de uma cultura; quando, por exemplo, algum diretor acha que ficaria bonito usasse tal clichê em seu filme e o acaba usando apenas por isso, resultando em um vassalo insignificante sem qualquer habilidade ou realização. E é assim precisamente assim que, por fim, aqueles dispositivos usados em obras sem razão alguma acabam perdendo o valor e se tornando uma qualidade negativa a ser usada.

Isso ocorre pela falta de entendimento da causalidade por trás do dispositivo e o seu uso. Há um motivo para isso ou aquilo ter ocorrido numa obra, motivo que pode ser alguma mensagem que o autor desejava ver traduzido em sua obra ou que ele a traduziu inconscientemente. A Mensagem é a causa e o Dispositivo é o efeito usado para ilustrá-la. Tentar copiar os efeitos de uma obra é inútil, já que eles apenas funcionavam dentro dos desejos do autor que os originou e não são mais do que os efeitos desses mesmos desejos. Quando alguém tenta copiar o efeito meramente por achá-lo bacana terá apenas merda a colher da empreitada. Um efeito, quando usado sem correlação com causa ou, acaba criando um objeto vazio e puramente superficial em sua beleza, que cai como um castelo de cartas ao mais simples olhar de uma mente crítica. A causa, obviamente, é o contexto de que falei, e sem ela, não há necessidade de criar nada, e é exatamente isso que se da quando alguém tenta aplicar algum efeito sem causa nenhuma: um grande e inglório poço de NADA que reflete no vazio que ocupa a mente do tolo. Na pior das hipóteses, ainda, o uso de um efeito sem a causa que o produziu pode levar a audiência, através da racionalização, a entender todo o trabalho como contraditório.

Pode-se argumentar que Medíocre é a pior qualificação que uma obra pode receber de mim, pois vejo esse tipo de obra com um profundo desprezo, tão profundo que pode ser dito que é único, e, portanto, é a única coisa "única" a respeito de tal obra. Um trabalho que não possui nada de interessante para oferecer, apenas reciclando mecânicas antigas de obras mais interessantes é apenas uma gota que se acumula numa piscina de conteúdo hermeticamente idêntico. Servindo apenas para satisfazer os bolsos sem fundo de executivos sabichões que não valem nem o ar que respiram, ou de vadios que acreditam que o bacharelado em Arte que compraram da faculdade lhes dá super poderes. Em verdade, logo essa piscina metafórica de que falei vai secar, e todo mundo que bebia dela vai ter que ir atrás de outra, e logo aquela será esquecida, bem como a nova também, no futuro. É isso que é um trabalho medíocre: algo esquecível, sem valor. Vazio de conteúdo. O resultado que se dá ao tentar imitar o brilho de algo sem saber por que ele brilha.

Ao compreender a definição de mediocridade por meus padrões, "bom" e "ruim" tornam-se quase óbvios.

----- Bom
Este é um trabalho que apresenta algo de novo e o executa bem, ou utiliza de um conceito antigo e não deixa a desejar em sua execução. No entanto, talvez seu autor pudesse ter feito bem melhor se tivesse posto mais técnica no que estava fazendo, ou se tivesse mais experiência, ou mais tempo, ou se tivesse identificado melhor as ideias que desejava convergir ou considerado mais as implicações daquilo que botou na obra.

----- Ruim
Este é o trabalho que cria algo... E essa criação é um monstro. É feio, mal executado, mal escrito e/ou mal atuado. Pode ser o resultado de uma ideia genial nas mãos de alguém não tão genial, que ou por falta de experiência ou habilidade acaba criando um trabalho falho; mas igualmente também pode ser o caso de um conceito que era ferrado por sua própria natureza e que não podia dar em nada de bom desde o princípio.

----- Muito Bom
Um trabalho que cria algo e converge com beleza as ideias imaginadas, não deixando pontos sem nós.

----- Tão Bom Que é Incrível
Este aqui é um tanto complicado de descrever, e é aqui onde você notará (caso ainda não tenha notado) que meus critérios se tornam um pouco ambíguos. Lógica diria que algo que é melhor que "muito bom" numa classificação de três pontos de qualidade (bom, muito bom e tão bom que é incrível) só pode ser uma versão do "muito bom" com maiores valores de suas qualidades, mas na realidade meus pensamentos diferem dessa ideia.

O caso é que essas classificações não são nivelares de Muito Bom para TBI, ao contrário do que ocorre com Bom e Muito Bom ou com uma classificação numérica. Enquanto que o Bom pode captar a sua atenção, mas é tolo e descuidado, o Muito Bom é legitimamente interessante e memorável. Onde o MB está ciente do terreno em que está pisando e com o que está pisando nele, o Bom tropeça. Nisto vê-se uma diferença de níveis de qualidade de um pro outro, mas não em Tão Bom que é Incrível, pois uma coisa não pode se tornar melhor que Muito Bom. Afinal, o que lhe daria essa qualidade? Mais explosões? Mais peitos? Mais Lens Flare? Não se pode melhorar algo que já é ótimo aumentando a atenção ao trabalho (que já está no auge) ou embelezando a sua premissa (que pode acabar polida demais).

Mas então você me pergunta: "o que torna um trabalho Tão Bom que é Incrível?" "Bem", eu respondo, "a resposta é simples: eu não sei." Ora, pode ser que o autor tenha perdido seu tempo fazendo uma completa besteira no trabalho que lhe deu um ar diferente, pode ser um ad lib que ficou perdido em algum lugar ou pode ser, realmente, que a obra é nivelarmente superior à classificação de Muito Bom. Seja como for, cri que muito bom não fazia justiça e resolvi dar-lhe um Tão Bom que é incrível, e é isso.

A palavra chave aqui é ACASO, algo movido pelo acaso, em distâncias dispares entre autores e o alcance do controle que ele possui de sua obra lhe conferiu o dom de criar algo simplesmente brilhante. Pode ser até que essa nota não exista, mas e daí? Nenhuma delas existe mesmo, é tudo coisa da minha cabeça. E como eu acho que funciona, então já serve.

Ou talvez a nota exista e seja simplesmente a superação do Muito Bom com características superiores, tal qual eu disse anteriormente que não era; e eu fiz você perder tempo lendo três parágrafos onde eu tento parecer intelectual falando um monte de besteira indecifrável sobre um monte de merda que não entendo. Muito provável que seja isso. No entanto, veja pelo lado bom! O artigo todo consiste basicamente de um maníaco prepotente na internet achando seriamente que pode revolucionar o campo da crítica literária com retórica inflada, enrustida por trás dos escudos “eu acho” e “minha opinião”, que poluem a mente de todo babaca inseguro que teme que suas próprias ideias lhe mordam se ele as levar ao público sem antes estabelecer o óbvio de que tudo dito é algo que saiu de sua própria cabeça e não constitui um fato propriamente dito. Então não é como se algo de valor tivesse se perdido.

----- Tão Ruim Que é Bom
O personagem sai de uma sala para o corredor e esbarra no portal de uma porta fazendo com que o cenário inteiro feito de papelão chacoalhe. O valor de produção é um lixo e o diretor evidentemente está cego a isso ou simplesmente não dá a mínima. No entanto, você ainda adora ter para com esse trabalho, e se acaba de rir com o diálogo mal-escrito; a trama desconexa; os erros de edição e continuidade; a música inapropriada, etc.

Obviamente, é bastante relativo o que é Tão Ruim que é Bom pra uns e Tão Ruim que é Horrível para outros, pois a diferença entre ambos é sutil e a nuance é zero. Logo, o que pode ser TRH para mim pode ser TRB para ti.

----- Tão Ruim Que é Horrível
Aqui é o contrário da classificação anterior. A parte graciosa do outro cenário foi substituída por uma tela multicolor instigante à epilepsia. A trilha sonora confusa transmuta-se em uma sinfonia de serrotes; a atuação ruim pula de histérica para insuportável; e fito se faz a diversão, restando apenas uma experiência lancinante equiparável a de uma tortura militar.

Claramente tão subjetivo quanto o anterior, não pode ser mensurado fora das perspectivas pessoais.

Como se torna evidente nessas duas últimas classes, meu sistema é fortemente pessoal e dificilmente pode ser usado por outra pessoa sem receber uma adaptação. Meu propósito por trás desses desígnios era o de evitar a arbitrariedade de anexar números a obras, e acabo por fazê-lo substituindo a ditadura da matemática pela ditadura particular: dou a nota que quero dar baseando-me em um código absoluto de valor artístico que aplico com pouquíssimo cuidado. É perfeito? Não, mas é melhor do que colocar o sete de Tangled a apenas três pontos do dez de Labirinto de Pan.

Não confie puramente na nota por mim conferida às obras que rever, pois tenho muito mais a dizer num artigo inteiro do que em um conjunto de palavras que prego desajeitadamente ao seu final. Alias, pode-se dizer que a nota é inútil, o propósito deste artigo foi o de puramente defecar no termo “Medíocre”, e que o resto só veio junto, pois eu não conseguia justificar aquele pedaço sem tudo o que está aqui neste post.